O CHEIRO DA MÃE

 


Quadrifonia de odores, estações da memória, bricolage dos sentidos. Em qualquer lugar o meu nariz era capaz de me levar até ela, no meio da multidão, através de mil perfumes, a rasgar outros aromas como um animal no desmame que ainda procura a réstia do leite no aconchego do pêlo.
Mesmo agora, todos estes anos corridos, a venda escura atada, ainda se solta no ar um leve tom do seu sentir e eu sei-o, aspiro-o, recordo-o no meu peito, na minha cabeça, na minha saudade.

O LAÇO




Recordar-me-ei para sempre daquele dia. As duas, sentadas muito solenes na sala de jantar como se fosse ocasião especial porque só íamos para aquele cómodo em alturas especiais. Havía uma bandeja de chá e um prato de bolos. Não sei porque não falávamos, mas não o fazíamos e estávamos as duas assim, constrangedoramente à espera uma da outra que desse inicio a uma conversa banal para pôr fim a um silêncio que arrefecía o chá. Olhaste-me, vi-te lágrimas, falaste tão baixo que quase tive dificuldade em seguir-te. Ou talvez não quisesse. O que me ficou foi o teu perfume. É essa a imagem que tenho de ti, um laço à volta do meu pescoço, uma fita muito suave e perfumada. E não preciso de mais nada.