REFÚGIOS

 

 
 
-Não há cheiro como este!
E fincava as mãos nas ancas a admirar o mar a encaracolar-se branco, para vir morrer mansinho na areia molhada, os pés estacados a enterrarem-se.
Não dizia mais nada a partir desse instante, tudo era aquele cheiro. Ou não era nada. Era mesmo era a memória dos dias longos de praia, na companhia dos avós, a fazer tudo o que quería, a correr e a fazer rodas e pinos e a entrar no mar e a sentir as gotas de sal a formarem-se nos ombros quando secava ao sol.
Um cheiro que lhe picava as memórias de tão bom que era, tão presente, tão preciso quando as coisas de adulto não lhe corríam bem e se refugiava nos cantos da praia lembrada de quando era menino.
Não há cheiro que chegue ao dos tempos felizes.