GIESTAS



As giestas hão-de voltar, sei que sim, até podem demorar um pouco mais por causa dos frios, mas sei que estão dentro de si, protegidas, à espera dos seus dias. Primeiro os botões, duros, enrolados, depois o aroma orvalhado pela madrugada a entrar pelos campos fora numa correría que deixa doidos os mais novos. As giestas hão-de voltar sim, e o perfume delas há-de lembrar até chegarem sempre e todos os anos mesmo que tardem, hão-de voltar como tu hás-de regressar. Não importa quando, tão pouco importa se vens com o tempo das giestas, ou se as giestas se encolhem nesse dia e resolvem não aparecer mais. Mas tu vens, sei que me hás-de deixar doida como os tempos antigos em que as giestas eram do nosso tempo.

EU SOU DAQUI



As manhãs têm um perfume tão intenso. Deve ser porque estiveram toda a noite a descansar e quando acordam para o dia se exibem garbosas do seu cheiro caracteristico.

Aquela manhã não era diferente. Era o contraste de uma noite de essências misturadas entre o fabricado, o fumo de tabaco, os cheiros dos homens e das mulheres. À beira-mar, lisa de águas que havíam fugido para outro oceano restava o pico dolorido do iodo. Entrava pelas narinas sem pedir permissão, alagava-se pelos pulmões, sentía-se à vontade para trazer as recordações à luz do dia.

Ela ficou calada, deixou que o ar húmido lhe engelhasse o vestido de noite e os cabelos. Naquela manhã só interessava ver-se como criança a empilhar baldes de areia molhada e a construír castelos em que inventava princessas aflitas à espera que o cavaleiro a salvasse do dragão.

Inspirou longa, fortemente. Virou costas e trouxe no olfacto um bocadinho do que já fora.