ESCREVER EM AROMA



Escrevo coisas de mim nos sentidos brutos com que as comprei, sem modificação, alienadamente presa ao primeiro sorvo com que as tive.
Cheiro tudo.
Até os cadernos baratos de folhas com linhas mal impressas me comovem na sua pardacenta alvura. E a tinta, ai a tinta pingada ou a corrida fininha em argolas, pontos e outros floreados aprendidos no calo do dedo e na repetição dos costumes...
Cheiro tudo, preciso de cheirar tudo como um perdigueiro, inalar emoções, momentos, rastos de outros e atirá-los cá para dentro de mim, fixá-los à memória.
Um dia de olhos vendados, hei-de ainda reconhecer tudo!