INEBRIADAMENTE, LEMBRAR

 

 
Num repente lembrou-se de coisas antigas, já agora sem nexo ao que conversava e ao ambiente onde estava, teve dificuldade em acertar o raciocínio, escutar o que lhe dizia o seu parceiro, um fio de odor seu conhecido atirou-a num trambolhão a uma idade que nunca mais recordara, a rostos que perdera pela idade dos anos a passar.
Olhou ao redor a ver se descobria alguém que não vía há muito mas nada e tudo. O aroma palpitante a desbastar-lhe as memórias e a cabeça a rodar na pesquisa da origem de tal cheiro cada vez mais intenso e poderoso.
Apetecia-lhe chegar próximo dos demais e encostar o nariz àqueles pescoços todos, ir rejeitando um a um até encontrar o verdadeiro, achar quem dela se escondia num jogo de cabra-cega.
Fechou os olhos por segundos, tonta e inebriada como um álcool a subir nas veias e na cabeça e depois suavemente, tudo se foi.
Todo o perfume se evaporou. Menos a lembrança que recuperara.

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