Chegava do mercado muito carregada. Mas nem por isso deixava de trazer um braçado de flores da época, as que fossem mais perfumadas. Atraíam sempre insectos. Implicávamos com ela por causa disso e ela sem fazer caso repetia o gesto todas as semanas. Habituei-me a ver flores naquela jarra toda a minha vida. As mais cheirosas. Mesmo quando já não vivia com ela, entrava no salão e entre dois dedos de conversa, distraída, apertada o pé das flores, a macieza das pétalas e enfiava o nariz no meio daquele odor. Só me apercebi da falta que aquele ramo perfumado me fazia, das tardes a falar a pretexto de nada, das abelhas teimosas, quando já não haviam. Enquanto me estiveram ao alcance não tive a dimensão de como fazia a diferença um arranjo floral perfumado, o meu nariz a habituar-se a cheirar memórias sem saber.
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