O CHEIRO DO BEIJO


Ele sempre lhe dissera que os beijos tinham cheiro. Ela chamava-lhe tonto. Ele insistía, havía um cheiro especial nas bocas que se colavam no beijo, no rodar dos lábios levemente pressionados, levemente apertados, um hálito especifico que nomeava cada beijo como único, original. Ela ría-se.
Quando se despediram ele demorou os lábios nos dela, imprimiu todo o gosto da sua boca na dela, a pele húmida e quente colada à boca dela.
Não disseram nada nem levantaram a mão para acenar adeus.
Ela olhou a paisagem corrida do combóio, sentiu a saliva dele enxugar-se aos poucos na sua boca, na memória, no lembrar e nunca tão nitido e certo lhe pareceram os odores de um beijo último.

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