Entrar sem autorização era o menos. O gosto que a fazía salivar eram os aromas -para ela intimos, secretos- daquele universo no masculino que a entontecía de tantas perguntas, uma curiosidade obssessiva, cheiro de homem, cheiros verticais chamava-lhe. Eram os couros do sofá, da pasta surrada, da agenda de bordos envelhecidos, do cognac dormente e fogoso, o aroma a cascas de árvore a saír da cigarreira, a cera adocicada da secretária macia no sitio onde pousam os braços da escrita, o lenço, a gravata, o roupão todos embebidos de uma alfazema macerada pelo odor do corpo, o perfume dos livros e ainda o das mãos ausentes nos instantes que ladra roubou ao mundo dele para encher o seu.
Fechou a porta devagarinho e saíu feliz.